“Que seria de Moçambique se Samora Machel ainda fosse vivo??? Eu não sei, só sei que Ele foi uma das maiores perdas que Moçambique já teve. Celebremos o 3 DE FEVEREIRO não só pelos Heróis Nacionais que já pereceram, mas também, e principalmente, pelos Heróis Nacionais que ainda vivem os dias difíceis de hoje, o POVO!” Haydn Joyce
Momento adequado para darmos continuidade a proposta socializada por nossos parceiros e irmãos moçambicanos , a partir da organização encabeçada pelo escritor, poeta e fotógrafo Zito Bila. Bila indica para conhecermos melhor um pouco da cultura moçambicana das suas inúmeras histórias e complexidade de um povo que com o trabalho forçado e resistente, hábitos e costumes, tem papel formador para a tão heterogênea e miscigenada identidade cultural brasileira, não nos balizando somente no padrão da língua do colonizador usurpador das nossas riquezas naturais, não nos retirou as vossas sabedoria, memória e representação historicamente constituída e que nos faz continuar. Saudações a tod@s manifestações postadas nas redes sociais qual somos interligados nos consegue a abrir alguns leques e cenários sobre as próximas e distanciadas realidades consumadas.
Zito Bila e Helder Leonel
Livros : Sugestões de leitura
No âmbito da última Interconecção on line do dia 27 de Novembro de 2010, entre Maputo, Luanda e São Paulo, promovido pelo IVOZ e realizado no CCJ de São Paulo, deixei algumas sugestões de leitura para todos os interessados, mas especialmente, para criadores de conteúdo, dentre escritores, compositores e MC’s do movimento Hip-Hop. Naturalmente, as sugestões que faço, visam principalmente os MC’s moçambicanos, que, na minha óptica, revelam ainda algum deficit no alcance e abrangência dos conteúdos que criam, ou melhor, podiam escrever mais e muito melhor se adoptassem o hábito de leitura.
Temos gente muito talentosa e atenta à realidade nacional e internacional actual, que escreve letras e compõe músicas com conteúdo educativo e crítico. No entanto também é verdade que alguns aspectos e assuntos passam despercebidos à muitos fazedores de cultura em geral, e músicos em particular.
Ora, para mim, este facto, limitante nos assuntos que os agentes culturais colocam em seus trabalhos, deriva principalmente de não se ter um hábito de leitura enraizado nas novas gerações de músicos. No tocante ao Hip-Hop Underground, as vivências e vicissitudes do dia a dia de um rapper, são o principal mote das letras que este escreve. Os Rappers têm demostrado estarem conscientes e atentos a realidade sócio-económica actual, tanto nacional quanto global. Costuma-se dizer ‘’um Nigga tá bem informado’’, com as óbvias limitações que a velha máxima ‘’ninguém sabe tudo’’ nos possa trazer.
Digo isto porque em matéria de informação, ainda muitos rapazes não investigam e/ou não sabem sobre suas própias raízes, sua árvore genealógica, seus parentes distantes, sobre a cultura da região de onde é ‘’originária’’ sua família; sobre a história de África em geral, e de Moçambique em particular. Noto também muita falta de informação sobre a Lei Mocambicana, desde o livro-mór, isto é, a Constituição da República (garante dos deveres e direitos de um cidadão) até aos regulamentos sobre direitos autorais e direitos conexos, e direitos de propriedade intelectual, que são uma protecção adicional para criadores de conteúdo.
Eduardo Mondlane
Falemos então da nossa história. Decerto o nome Eduardo Chivambo Mondlane (1920-1969) diz algo ao leitor, mas o pensamento, os ideais, a obra, continuam ou incompreendidas ou desconhecidas por muitos, daí que sugiro o seu livro intitulado ‘’Lutar por Moçambique’’, numa abordagem independentista e de construcao de uma nova nação. Sobre esta obra só posso dizer LEIAM POR FAVOR, ensina muito e esclarece sobre que Moçambique Mondlane desejava. Contrariamente ao que a maioria pensa, Mondlane, educado ainda muito novo de acordo com os dítames de um Cristianismo Presbiteriano (na Missão Suiça) e na Escola Metodista Americana de Agricultura (onde também serviu como professor) em Moçambique, e posteriormente nos Estados Unidos da América, na idade adulta, onde formou-se em Sociologia pela Universidade Northwestern de Illinois e doutorou-se em Antropologia pelaUniversidade de Harvard, revela-se mais um pensador de centro-direita (do tipo Social-Democrata e Cristão) do que de esquerda (Socialista Marxista –Leninista) como o eram alguns de seus colegas fundadores da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). OBRIGATÓRIO!
A Constituicao da Republica de Moçambique
Sugiro, no contexto legal, que se leia e se adquira ,se possível, A Constituição da República de Moçambique, que é de fácil leitura e compreensão. Do quarto parágrafo do seu preâmbulo extraio e cito: ‘’A presente Constituição reafirma, desenvolve e aprofunda os princípios fundamentais do Estado Maçambicano, consagra o carácter soberano do Estado de Direito Democrático, baseado no pluralismo de expressão, organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.’’. Leia-se!
Kwame Nkkrumah Osagyef
Seminarista, Teólogo, e posteriormente Doutorado em Ciências da Educação pela Universidasde da Pensilvânia nos E.U.A., Nkrumah é inflienciado por Marcus Garvey, Karl Marx e Vladimir I.U. Lenine. Sua fonte de inpiração é a grandiosa nação Etíope e sua secular luta para manter independência, dai que tanto a Costa do Ouro (Gana), como muitos outros territórios africanos que a posteriori se tornam independentes adoptam o verde, amarelo e vermelho, cores da bandeira da Etiópia.
Neocolonialismo – O Último Estágio do Capitalismo
De Nkrumah leia-se ‘’Neocolonialismo: A Última Etapa do Imperialismo’’ (ou a edição em inglês: ‘’Neocolonialism: The Last Stage of Imperialism’’, que é a qual tive acesso). Muito elucidativo e actual, apesar de ter sido escrito em 1965, pois aborda esta nova onda de ‘’colonização financeira’’ que se assiste em África por parte dos mesmos países e consórcios que um dia colonizaram e expploraram grande parte do continente africano, tudo escrito em forma de previsão do que já está a acontecer actualmente. Obrigatório para esclarecer e perceber o business in Africa, seus donos, seus métodos, e a dependência que geram.Traduzo e cito uma passagem da Introducao do mesmo livro: ‘’A essência do neocolonialismo é que o Estado que a ele é sujeito, é independente apenas teoricamente, e ainda que goze de todas as garantias de soberania à nivel internacional, na realidade a política as políticas são ditadas do exterior.’’
Susan George
À nivel das acções da sociedade civil ‘’mundial’’, destaco a activista e Cientista Política Norte-Americana Susan George, membro e Presidente da mesa de assembleia do Instituto Transnacional (TNI) de Amesterdão, que dentre outras causas, dedica-se ao estudo do impacto das políticas do capitalismo liberal na economia e agricultura dos países do chamado ‘’terceiro mundo’’. Crítica acérrima dos modelos de desenvolvimento impostos pelas instituições de ‘’Bretton-Woods’’, nomeadamente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (ou Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD). No seu livro ‘’How the Other Half Dies’’ (‘’Como a Outra Metade Morre’’ – a tradução é minha) ela explana as razões da existência de tanta fome num mundo de 6 mil milhões de habitantes, que gera alimento e riqueza suficiente para sustentar 18 mil milhões de pessoas. Note-se que metade (1/2) de toda terra arável do mundo está nas mãos de 5 porcento (1/20) da população, ou seja, magnatas, consórcios e conglomerados do agri-business.
Paulina Chiziane
Por último, mas não por menos, sugiro aquela que considero, a ‘’mais’’ moçambicana das escritoras. Falo de Paulina Chiziane, que discorre muitas vezes sobre temas actuais da vida da maioria dos moçambicanos, tais como a poligamia, os ritos de iniciação, o curandeirismo, as práticas mágico-religiosas (bruxaria), os mitos e os tabús de uma ‘’moçambicanidade’’ cada vez mais globalizada. O livro ‘’ O Sêtimo Juramento’’ é uma viagem ao imaginário sobre a invocação dos espíritos e os supostos usos que se dá às almas vagueantes, desde a protecção pesssoal até ao ataque à ‘’inimigos’’ com recurso a feitiços. É uma obra de ficção que melhor espelha a realidade das gentes africanas, seus costumes, suas crenças, as quais levaram consigo para as Américas no auge do comércio esclavagista, e que até hoje são uma realidade de seus descendentes no Brasil, e mais expressivamente na Bahia, onde existe uma grande concentração de ‘’Afro-brasileiros’’.
AS OBRAS
MONDLANE, Eduardo, Lutar por Moçambique, Lisboa ,Sá da Costa – Edições Terceiro Mundo,1975 (1995)
Contitução da República, Maputo, Inprensa Nacional de Moçambique, 2004
NKRUMAH, Kwame, Neocolonialism: the Last Stage of Imperialism, London, Panaf books, 1971
GEORGE, Susan, How the Other Half Dies: the Real Reasons for World Hunger, New York, Pelican Books, 1976 (2010)
CHIZIANE, Paulina, O Sétimo Juramento, Lisboa, Editorial Caminho, 2000
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